The Room

The Room (2003)

http://imdb.com/title/tt0368226/

O cinema é capaz de ser a única arte que definiu uma classificação contraditória para algumas das suas obras. Assim, além das obras primas, dos filmes muito bons, dos bons, dos decentes, dos fraquinhos, dos maus e dos muitos maus (os termos podem variar, mas no geral deve ser mais ou menos assim), existem também os chamados tão maus que dão a volta e tornam-se bons. A classificação parece não fazer sentido, como pode um filme ser tão mau e ao mesmo tempo bom. Não querendo, nem tentando entrar muito em detalhe, os filmes que se classificam assim são tipicamente obras que falham redondamente em premissas que estavam a tentar alcançar (por exemplo, argumento, interpretações, etc...). O que difere dos filmes realmente maus é que essas falhas tornam  os filmes hilariantes e não dorolosos de ver (um exemplo de um filme realmente mau pode ser Scary Movie 5 e de um filme mau que dá a volta Sharknado).

Porquê esta explicação toda? Simplesmente para dizer que acredito que encontrei o topo desses filmes. A obra sobre a qual todos os outros "tão mau que é bom" têm de ser comparados.

The Room foi escrito, realizado e interpretado por Tommy Wiseau e é simplesmente incrível.
Não consigo ter palavras que façam justiça ao quão mau o filme é.
O argumento é do mais banal que existe, basicamente consiste num drama sobre um triângulo amoroso, que mesmo assim consegue falhar devido às motivações de cada personagem serem, e à falta de melhor adjectivo, completamente idiotas e irreais.
Os diálogos conseguem ser incoerentes, sem sentido, com falas que entram cedo demais, tarde de mais ou simplesmente não fazem qualquer sentido lá (é impressionante como uma simples cena duma florista de cerca de 1 a 2 minutos consegue fazer com que o diálogo faça pouco sentido).
O filme está cheio de cenas que não avançam em nada o argumento, servindo só para aumentar a duração do mesmo, e que ocorrem do nada deixando o espectador com a sensação que o editor trocou as mãos e juntou vários maus filmes diferentes.
Os cenários e fotografia são tão banais e desinteressantes que não me lembro de dizer mais nada sobre eles.
As interpretações são fracas, mesmo fracas, não existindo um único, chamemos "actor" (não investiguei mas quero acreditar que sejam todos ainda estudantes de representação) que consiga ter uma cena onde possa dizer que representou. Posso na verdade estar a ser muito bruto, porque eu respeito a forma como tentaram "representar" os diálogos de forma séria.
Mas o que torna este filme no topo dos "maus que são bons" é a representação do seu actor principal. Se The Dark Knight teve Heath Ledger (um exemplo de interpretação que tornou o filme uma obra prima), então The Room tem o próprio Tommy Wiseau.
A sua representação, e estou a usar a palavra livremente porque o que ele fez foi tudo menos representar, foi tão horrívelmente bela, tão dolorosamente engraçada, tão incrivelmente má, que acredito verdadeiramente que ele inventou sozinho um novo método de não-representação (será que esta palavra existe?). Gostava de conseguir detalhar a sua  não-representação, mas não iria conseguir transpor nem tão pouco aproximar-me dessa obra prima em palavras, o que fará sentido neste caso dizer que uma imagem vale mais que 1000 palavras.
Se já tudo isto seria suficiente, o filme também contém cenas que servem ao nobre propósito de serem imitadas até à exaustão (como todas as grandes obras têm).

Para concluir, vejam este filme.
Na companhia de amigos e com alguma bebida, esta é capaz de ser uma das obras mais cómicas que alguma vez viram (tendo grande potencial para os chamados drinking games).

Espero ansiosamente pela peça de teatro!!!!

Pontuação: 2
Factor de diversão: 10

Mr. Turner

Mr. Turner (2014)

http://imdb.com/title/tt2473794/

Obras biográficas não fazem normalmente o meu género de cinema e posso contar pelos dedos de uma mão os que gostei (actualmente só me lembro do filme Lincoln). Assim quando fui ver este filme, ia sem nenhumas expectativas.
Começando pelo que salta logo à vista, os cenários e vestuários da época estão todos muito bem conseguidos e a nomeação para o Oscar é inteiramente merecida.
A história acredito que seja interessante para os fãs do género mas para mim foi algo aborrecida, tendo estado sempre com a sensação que não se passava nada.
O verdadeiro ponto positivo do filme é a interpretação do actor principal (Timothy Spall). Ele funde-se totalmente na personagem (não me chocava nada se tivesse sido nomeado para o Oscar). O resto do elenco tem prestações sólidas, mas visto à distância (vi o filme à algum tempo), só me consigo recordar verdadeiramente de Timothy Spall (em particular de um tique muito próprio que a personagem tinha).
Um drama biográfico de época que embora não surpreenda deve satisfazer os fãs do género.

Pontuação: 63

Filmes em 2 Frames

Viktor Hertz, ilustrador sueco, deixa-nos aqui pequenos resumos visuais de alguns dos clássicos do cinema. Fazendo uso de somente dois frames/ilustrações, estes clássicos são esmiuçados até restar somente o essencial de cada um. Desde Star Wars, passando por Pulp Fiction e The Big Lebowski, são vários os filmes que se sujeitaram a este processo. Os restantes podem ser visualizados no site da kickstarter e, já agora, quem quiser, pode apoiar este projecto.
Tendo já desenvolvido vários projectos similares, esta foi a primeira vez que o artista recorreu a um trabalho simbiótico com o público para todo o desenvolvimento dos posters.
Que venham mais!





Fonte: MyModernMet

RIP: Manoel de Oliveira

As suas obras podiam não ser as mais fáceis de acompanhar nem tão pouco as que tinham mais sucesso comercialmente, mas, independentemente disso tudo, acredito não estar a exagerar quando digo que o cinema português perdeu um dos seus grandes, talvez mesmo o maior!!!
O universo cinematográfico ganhou mais uma estrela.

Que venham as merecidas homenagens!

" O cinema só trata daquilo que existe, não daquilo que poderia existir. Mesmo quando mostra fantasia, o cinema agarra-se a coisas concretas. O realizador não é criador, é criatura."

1908-2015

Roma

Roma (1972)

http://imdb.com/title/tt0069191/

Do que fala Roma? De tudo e de nada, ou seja, de acontecimentos e situações banais sobre as quais muitas vezes não damos qualquer valor.
Este filme que serve como uma homenagem do realizador à cidade do título, apresenta uma metrópole estranha e fria com rituais ainda mais estranhos e personagens que aí vagueam moldando e sendo moldadas por ela (a cidade).
A obra apresenta-se como um conjunto de sequências com poucas ou nenhumas ligações entre elas onde o realizador representa diferentes situações que ocorrem na sua cidade de adopção. Usando muitas vezes o absurdismo, cada sequência parece usar um estilo de filmar diferente, o que lhes confere uma identidade própria, fazendo quase com que o filme pareça um conjunto de curtas (que neste caso em particular tende a resultar).
Sem personagens ou actores que se elevem na obra, ficamos com a ideia que a personagem principal é realmente a cidade com os seus defeitos e pontos fortes.
Uma das obras mais interessantes que vi de Fellini, acredito que possa agradar a um vasto número de pessoas, seja pela forma diferente e original de mostrar uma das cidades mais famosas do mundo, ou pelas diferentes sequências e forma de filmar das mesmas.

Obra visualizada na Masterclass sobre História do Cinema

Pontuação: 72